quinta-feira, 31 de março de 2011

Rs



Preciso ouvir uma risada nova, daquelas com algum ruído peculiar que imprima em mim uma nova melodia de alegria.

Quero que esse som ecoe em minha mente e me traga riso e rosas. Desejo que seja inusitado, que seja espontâneo, que seja para mim.


terça-feira, 29 de março de 2011

Sinestesia


Não havia som, nem imagem, gosto, toque, muito menos cheiro. A fase em que se preocupava com esses sentidos já havia passado. Seu corpo não detinha para si a mesma estima que antigamente, suas sensações não tinham a mesma importância. Toda sua vida até então não passava de ilusões e sonhos embalados por batidas vintage. O tempo que dura um segundo também havia perdido sua legitimidade.

- Desce mais uma rodada! – lembrava vagamente de flashes na memória falha e atemporal. – Hoje é dia de festa!

Quem eram aquelas pessoas que riam e comemoravam? Que sonho maluco aquele.
Sentia como que flutuando em uma grande piscina de ar. Os pensamentos boiavam em sua frente e ela os catava como se pegasse peixes emersos.
- Filha – dizia uma senhora muito alta usando maiô com estampa de bolinhas - use filtro solar no nariz também.
Se esse era um sonho, onde entrava a realidade?
- Quem vem comigo? Tô legal, tô de boa!
A pressão nas pernas e abdome fizeram sua sensibilidade aflorar ainda que pausadamente.
Dor. Mas de onde vem a dor? Seria do mesmo lugar de onde vinham os sonhos?
- Vamos voar! Eu quero voar! – lembrava disso. Essa voz era sua, seja lá quem ela fosse, e essa situação estava começando a incomodar.
Sangue. O gosto agora era sangue. Ela sentia como se ele jorrasse de dentro de seu diafragma.
- Puta merda, que lerdeza. Sai daí, seu lerdo! – havia mais uma voz, ela vinha do seu lado direito, mas não conseguia vislumbrar um rosto. Não lembrava nem de seu próprio rosto. Queria parar de pensar coisas sem nexo.
Luz, luz forte e vermelha. Quem ligou a luz? Abria e fechava os olhos, tudo parecia estar tomando forma e sentido. Estaria ela acordando? A dor agora estava por toda parte, estava tonta, desnorteada, sedenta.
- Tânia, Tânia. – Dizia a voz chorosa, amedrontada e desesperada à sua direita. Seria mais um surto? Era tão real.- O que aconteceu? Ai, meu Deus, você está bem? – a voz soluçava e falava baixinho, quase que sussurrada. Sem forças, sem esperanças.
Ela virou seu pescoço o máximo que pode em direção a voz. Levantou os olhos e mirou Valquíria, a amiga agora ensanguentada e retorcida à sua direita. Não era sonho. Sonhos não são tão opressivos.
O metal do motor aquecido e a gasolina começaram a exalar, misturando-se ao álcool nas suas roupas.
Medo e dor. Destes, o maior era a dor.
Subitamente queria que tudo aquilo fosse novamente um devaneio, mas não era.
A senhora do maiô estampado passou rapidamente pela mente quase lúcida de Tânia.
Como isso pôde acontecer logo com ela? Sempre foi uma exímia motorista, mesmo embriagada.
Lentamente todas as sensações começaram a amenizar.
Os pensamentos começaram a parar de rodar.
A respiração ficava mais pausada.
A dor não existia mais.
Não havia mais som, nem imagem, gosto, toque, muito menos cheiro.
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Esta crônica é de minha autoria, e está contida no livro "Caldo fino: Crônicas sobre o cotidiano no Amapá”, organizado pelas jornalistas Roberta Scheibe e Cláudia Assis.
"Sinestesia" retrata uma realidade muito corriqueira na cidade de Macapá: os acidentes de trânsito.
No livro você encontrará mais 23 crônicas de diversos autores, incluindo "A desculpa", também de minha autoria.

quarta-feira, 23 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

Epifania

Existem momentos brilhantes nos quais os garranchos da vida se tornam legíveis, e compreendemos com mais facilidade o mundo que construímos ao nosso redor. Nem que seja por um breve instante as circunstâncias se mostram claras como a água, e você entende.

Engana-se, porém, quem pensa captar alguma novidade. A verdade sempre esteve lá. Ao contrário do que pensamos, ela não foi percebida, mas sim aceita.

Essa tal conclusão luminosa acontece justamente porque a verdade não dói mais, e as situações deixam de incomodar. Você está livre para enxergar os fatos sem medo.

Abençoados os dias em que subitamente começamos a compreender nossos próprios garranchos no caderno velho da alma.

sábado, 19 de março de 2011

Além do que se vê



Há um caminho. Na verdade existem vários deles, porém desejo falar sobre um em especial, o que escolhemos trilhar.

Sobre esse caminho advirto: Um dia fatalmente sobrevirá algo que o mudará completamente, espere você ou não. Quando esse dia chegar, você ficará desnorteado, contrito e assombrado com a roda furiosa da vida.

Mas o tempo passará, e você perceberá que o otimismo, antes versado em esperar o melhor, consistirá, então, em considerar que tudo poderia ter sido pior. Seu impulso vital o ensinará que é necessário caminhar, seja qual for a direção.

Em um dia qualquer, depois de lágrimas, boas risadas e algumas bebidas, olhará para trás e conseguirá ligar os pontos antes sem sentido quando ainda mirava o horizonte das expectativas frustradas. E, sem perceber, criará novos caminhos. Caminhos cada vez mais prudentes, porém não menos arrebatadores.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Preciso ir além dos dias


Todo dia muda alguma coisa, não sou a mesma pessoa de algumas horas atrás. Todo pensamento vem e vai, todo sentimento se desfaz quando a vida não tem e você não corre atrás. (Mombojó)

Das novidades


Peço desculpas aos leitores do blog pela ausência de minhas postagens. Ao voltar a postar lembrei uma conversa que tive com a amiga Janine, e percebi que minhas palavras também caberiam aos amigos que acompanham o blog:

- Tenho tantas coisas pra te contar...

- Nossa! Coisas boas?

- Sim! Coisas boas e outras que ainda não entendo.

- Coisas de amor?

- Coisas sobre a vida, sobre sentimentos que não sei se são amor, outras sobre sentimentos que acredito que podem vir a sê-lo, e mais algumas tantas sobre sentimentos que sempre serão amor.