sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Um ano mais

Sou grata por todos os encontros reencontrados diversas vezes no caminho.

Desejo que no ano por vir tenha a graça de me reencontrar em várias ocasiões, e, a cada vez, que retorne carregando diferentes vivencias do mundo exterior ao meu. Pois o mais prazeroso delírio sempre esteve em, quando perdida, deparar comigo.

Mais uma etapa da jornada se vai.



Belchior, cumpri minha promessa: neste ano eu não morri.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Desanuviar

Hoje choveu.
Choveu em ritmo de guitarra espanhola, me esfriou as mãos, molhou a terra, e me tocou a pele.
Choveu como quem chorasse.
Senti o cheiro do inverno me nublando a alma e inundando gradativamente o coração no líquido amargo de algumas lembranças.
Mensurei a dimensão do dilúvio que minha memória sensorial pode trazer, e entendi que preciso com urgência construir novas recordações de fim de ano.
Que a chuva regue vivências de paz,
e não de mal.




"Vai embora nuvem, vai embora e não vem mais"


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Comentário a respeito da felicidade


A felicidade é como um artefato cobiçado que gradativamente torna-se aquecido em nossas mãos. De forma que, no processo de superaquecimento, chega o momento no qual não o conseguimos segurar. E por não conseguirmos empunhá-lo, resta-nos poucos períodos de tempo para desfrutar de sua posse e, quanto mais resistimos a deixá-lo cair, mais abrupta, violenta e dolorosa é a queda.


*Baseado em um pensamento de Andressa Passos.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sonora



Ouço flores. Não todo o tempo, porém com cada vez mais frequência.
Me deleito em absorver os aromas amadeirados que emanam em nuanças multicoloridas.
Fecho os olhos e aspiro a energia da batida progressiva desse ritmo, e me deixo bailar, pois reconheço que o compasso vem do jardim dos teus sorrisos.


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Etéreo



Consagro meus gracejos àqueles teus sorrisos solares que tanto me aquecem.

E enquanto irradia meu horizonte, empenho-me em capturar toda essa beleza e melodia, para que, mesmo só por agora, sejam para sempre meus.







quinta-feira, 7 de julho de 2011

Não desista de mim


Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo.
(Fernando Anitelli)



segunda-feira, 20 de junho de 2011

Do envolvimento






Como reconhecer um novo amor que cresce em silêncio?

Uma amiga deu a dica. Disse-me:

Se há inquietação, seja o que for,vocês já sentem alguma coisa. E se tudo for terno, envolvente, pacífico, amigo, esperançoso... é amor.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Das primazias



Uma amiga ensinou-me sobre as prioridades de cada alma.

Surpresa ao ver em mim alguma mudança de hábitos, discursos e atitudes, começamos uma conversa sobre como as pessoas se transformam com o decorrer do tempo.

Em determinado momento perguntei o que, em sua opinião, muda mais as pessoas: o amor ou a falta de amor.

Ao que ela respondeu: A falta de sexo.





Irromper


Me desperdiço, me doo, me comovo, me arrebento de existir.
(Fabrício Carpinejar)




sexta-feira, 1 de abril de 2011

Prosa

Prezo muito por minhas companhias, quer sejam elas boas ou más.

Quando compartilho uma boa conversa com elas, por mais abstrata que seja, é delicioso observar e absorver fragmentos de percepções, experiências e conhecimentos nativos do mundo que construíram para si.

Do mesmo modo apetecem-me os diálogos inconclusivos, nos quais aprendemos a construir caminhos impregnados das mais diversas essências humanas, sem, no entanto, esgotar as considerações e ponderações sobre o assunto. Assim como tudo na vida deve ser.

Mais do que agradável, é sempre bom ouvir pessoas, especialmente quando elas têm algo a dizer.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Rs



Preciso ouvir uma risada nova, daquelas com algum ruído peculiar que imprima em mim uma nova melodia de alegria.

Quero que esse som ecoe em minha mente e me traga riso e rosas. Desejo que seja inusitado, que seja espontâneo, que seja para mim.


terça-feira, 29 de março de 2011

Sinestesia


Não havia som, nem imagem, gosto, toque, muito menos cheiro. A fase em que se preocupava com esses sentidos já havia passado. Seu corpo não detinha para si a mesma estima que antigamente, suas sensações não tinham a mesma importância. Toda sua vida até então não passava de ilusões e sonhos embalados por batidas vintage. O tempo que dura um segundo também havia perdido sua legitimidade.

- Desce mais uma rodada! – lembrava vagamente de flashes na memória falha e atemporal. – Hoje é dia de festa!

Quem eram aquelas pessoas que riam e comemoravam? Que sonho maluco aquele.
Sentia como que flutuando em uma grande piscina de ar. Os pensamentos boiavam em sua frente e ela os catava como se pegasse peixes emersos.
- Filha – dizia uma senhora muito alta usando maiô com estampa de bolinhas - use filtro solar no nariz também.
Se esse era um sonho, onde entrava a realidade?
- Quem vem comigo? Tô legal, tô de boa!
A pressão nas pernas e abdome fizeram sua sensibilidade aflorar ainda que pausadamente.
Dor. Mas de onde vem a dor? Seria do mesmo lugar de onde vinham os sonhos?
- Vamos voar! Eu quero voar! – lembrava disso. Essa voz era sua, seja lá quem ela fosse, e essa situação estava começando a incomodar.
Sangue. O gosto agora era sangue. Ela sentia como se ele jorrasse de dentro de seu diafragma.
- Puta merda, que lerdeza. Sai daí, seu lerdo! – havia mais uma voz, ela vinha do seu lado direito, mas não conseguia vislumbrar um rosto. Não lembrava nem de seu próprio rosto. Queria parar de pensar coisas sem nexo.
Luz, luz forte e vermelha. Quem ligou a luz? Abria e fechava os olhos, tudo parecia estar tomando forma e sentido. Estaria ela acordando? A dor agora estava por toda parte, estava tonta, desnorteada, sedenta.
- Tânia, Tânia. – Dizia a voz chorosa, amedrontada e desesperada à sua direita. Seria mais um surto? Era tão real.- O que aconteceu? Ai, meu Deus, você está bem? – a voz soluçava e falava baixinho, quase que sussurrada. Sem forças, sem esperanças.
Ela virou seu pescoço o máximo que pode em direção a voz. Levantou os olhos e mirou Valquíria, a amiga agora ensanguentada e retorcida à sua direita. Não era sonho. Sonhos não são tão opressivos.
O metal do motor aquecido e a gasolina começaram a exalar, misturando-se ao álcool nas suas roupas.
Medo e dor. Destes, o maior era a dor.
Subitamente queria que tudo aquilo fosse novamente um devaneio, mas não era.
A senhora do maiô estampado passou rapidamente pela mente quase lúcida de Tânia.
Como isso pôde acontecer logo com ela? Sempre foi uma exímia motorista, mesmo embriagada.
Lentamente todas as sensações começaram a amenizar.
Os pensamentos começaram a parar de rodar.
A respiração ficava mais pausada.
A dor não existia mais.
Não havia mais som, nem imagem, gosto, toque, muito menos cheiro.
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Esta crônica é de minha autoria, e está contida no livro "Caldo fino: Crônicas sobre o cotidiano no Amapá”, organizado pelas jornalistas Roberta Scheibe e Cláudia Assis.
"Sinestesia" retrata uma realidade muito corriqueira na cidade de Macapá: os acidentes de trânsito.
No livro você encontrará mais 23 crônicas de diversos autores, incluindo "A desculpa", também de minha autoria.

quarta-feira, 23 de março de 2011

terça-feira, 22 de março de 2011

Epifania

Existem momentos brilhantes nos quais os garranchos da vida se tornam legíveis, e compreendemos com mais facilidade o mundo que construímos ao nosso redor. Nem que seja por um breve instante as circunstâncias se mostram claras como a água, e você entende.

Engana-se, porém, quem pensa captar alguma novidade. A verdade sempre esteve lá. Ao contrário do que pensamos, ela não foi percebida, mas sim aceita.

Essa tal conclusão luminosa acontece justamente porque a verdade não dói mais, e as situações deixam de incomodar. Você está livre para enxergar os fatos sem medo.

Abençoados os dias em que subitamente começamos a compreender nossos próprios garranchos no caderno velho da alma.

sábado, 19 de março de 2011

Além do que se vê



Há um caminho. Na verdade existem vários deles, porém desejo falar sobre um em especial, o que escolhemos trilhar.

Sobre esse caminho advirto: Um dia fatalmente sobrevirá algo que o mudará completamente, espere você ou não. Quando esse dia chegar, você ficará desnorteado, contrito e assombrado com a roda furiosa da vida.

Mas o tempo passará, e você perceberá que o otimismo, antes versado em esperar o melhor, consistirá, então, em considerar que tudo poderia ter sido pior. Seu impulso vital o ensinará que é necessário caminhar, seja qual for a direção.

Em um dia qualquer, depois de lágrimas, boas risadas e algumas bebidas, olhará para trás e conseguirá ligar os pontos antes sem sentido quando ainda mirava o horizonte das expectativas frustradas. E, sem perceber, criará novos caminhos. Caminhos cada vez mais prudentes, porém não menos arrebatadores.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Preciso ir além dos dias


Todo dia muda alguma coisa, não sou a mesma pessoa de algumas horas atrás. Todo pensamento vem e vai, todo sentimento se desfaz quando a vida não tem e você não corre atrás. (Mombojó)

Das novidades


Peço desculpas aos leitores do blog pela ausência de minhas postagens. Ao voltar a postar lembrei uma conversa que tive com a amiga Janine, e percebi que minhas palavras também caberiam aos amigos que acompanham o blog:

- Tenho tantas coisas pra te contar...

- Nossa! Coisas boas?

- Sim! Coisas boas e outras que ainda não entendo.

- Coisas de amor?

- Coisas sobre a vida, sobre sentimentos que não sei se são amor, outras sobre sentimentos que acredito que podem vir a sê-lo, e mais algumas tantas sobre sentimentos que sempre serão amor.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Das motivações do coração


Uma amiga me ensinou a reconhecer as verdadeiras motivações do nosso coração.

Por estar triste com algumas adversidades em sua vida, e movida pela inspiração que acompanha seus desânimos, começou a escrever. E escreveu, entre outras coisas, “vou sair para contar e estrelas e já volto”.

Mas as estrelas são tantas...

Ela havia esquecido que não conta estrelas porque quer ficar ausente.
Ela conta estrelas porque é romântica.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Toda forma de amor é justa

Temos o péssimo hábito de avaliar as pessoas tendo a nós mesmos como peso de medida. Calculamos e julgamos atitudes e emoções alheias baseados em nossa forma particular de encarar a vida e as situações. Pensando ser astutos, desconsideramos a incoerência que é a individualidade humana.

Precisamos entender que a nossa forma de amar não é a única, e muito menos a certa.

Canção da alma


Hoje ouvi uma canção sobre mim. Na verdade tenho ouvido diversas delas, lido poesias sobre meus sentimentos e crônicas a respeito dos meus pensamentos. Contudo me emociona saber que minha dor, alegria e experiências já foram musicadas.

Devo dizer que sinto um discreto alívio quando ouço alguém cantar coisas que me são tão profundamente íntimas, vejo que não sou a única a viver as fortunas e misérias que se passam em meu interior.

Então te resta cantar e dançar, oh minha alma, ao som das canções dedicadas a ti, das quais te empossaste.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Privilégio

Amar é para poucos, coisa de gente grande. (Rosa Avello)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Cotidiano


As ruas estão cheias dessa gente chata e absurda que faz do notório a sua única ambição. Movidos a dinheiro, álcool, óleo diesel e gasolina, cumprindo mais um dia sua estúpida missão.(Raul Seixas)

Apostasia nossa de cada dia


Certa vez ouvi de minha mãe a recomendação para não declinar minhas convicções religiosas ao ingressar na faculdade. Agora, após frustrar suas expectativas, penso que o conhecimento científico não é o culpado por me fazer deixar de crer e sentir as coisas divinas como antigamente.

Acredito que as pessoas naturalmente tendem a ser mais materialistas, e menos abstratas. Algumas têm oportunidades e experiências que aceleram ou retardam o processo, mas no fim das contas estamos todos nos tornando cada vez mais mundanos.

Talvez seja por isso que tenhamos de morrer. Para que não sejamos contaminados por completo. Para que ainda reste um pouco do transcendental em nós no momento em que passarmos para a dimensão onde o imaterial nos assombra.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Shhhh!



Meus sentimentos se comunicam por meio de berros afônicos.
Um dia, porém, a afonia finalmente chegou, então tive tranquilidade para descansar os ouvidos e escutar os sussurros do meu juízo.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ao contar o conto, subtraio um ponto


Quanto mais conto uma história, mais exercito a minha capacidade de resumir as coisas. Com efeito, acabo aprendendo a descomplicar não só as histórias contadas, mas também as vividas amiúde. Tudo pode ser encarado de forma mais simples, não que necessariamente o seja.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Esta menina hoje é uma mulher




Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta, que hoje eu me gosto muito mais, porque me entendo muito mais também. E que a atitude de recomeçar é todo dia, toda hora. É se respeitar na sua força e fé, se olhar bem fundo até o dedão do pé. (Gonzaguinha)

Do altruísmo



Hoje uma criança me ensinou sobre altruísmo.

Perguntei: Podes me indicar onde fica a secretaria dessa escola?

Ela se levantou da roda onde brincava com outros colegas, pegou no meu braço e respondeu: Eu levo você até lá.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Primeiro Andar

E lá vou eu a passear pela vida.

Vida que me fez vidro.

Existência auto-explicativa que requer exame,

Conhecerei e prosseguirei em conhecer-te.

Permanecerei faminta, permanecerei tola.

Para sempre


Vivemos esperando o dia em que seremos melhores. (Rogério Flaustino)

Do alterego

Um dia tive vontade de ser outra pessoa, e fui.

Experimentei agir de outra forma, com outras prioridades e rotinas. Resolvi então que deixaria o monstro sair de dentro do médico. Por que não? Foi o que fiz.

Fiz e desfiz. Foi bom, mas cansei.

Talvez meu corpo tenha sentido saudades dos cuidados da velha eu, a minha mente queria a antiga lucidez, e minha alma necessitava de sua graça de volta. Quem sabe simplesmente amadureci, e vi que tudo era uma grande tolice.

Comprovo mais uma vez a validade de qualquer experiência humana. Aprendi que viver pouco não é sinônimo de viver intensamente, e que diversão não é esgotamento, muito menos auto-destruição.

Vendo o que pode haver de pior em mim, percebi o quanto gosto da pessoa que estou me tornando. Após recentes correções e aprendizados, sou a melhor pessoa que já pude ser. Isso não é muita coisa, mas a simples certeza de que não estou piorando, já me faz muito mais feliz dia após dia.

No mais, que seja feita a vontade das minhas vontades. Sinto que me preservar é a melhor maneira de aproveitar a vida ao máximo.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Elementar, meus caros


Um amigo pergunta:

- Vamos ao Cevada Bar?

- O que é isso? - pergunto automaticamente.

- É um bar chamado cevada.

- ....

Às vezes as coisas são tão óbvias e mesmo assim me desgasto em perguntas e reflexões desnecessárias.

Faz um tempo que decidi parar de perder tanto tempo com obviedades, porém, estranhamente, o que há de mais óbvio nesse mundo acaba por ser o que mais me surpreende.